Artists: Allora and Calzadilla, Andrei Monastyrski, André Severo, Ariel Orozco, Arthur Barrio, Christian Marclay, Cildo Meireles, Clarissa Tossin, Dennis Oppenheim, Emily Jacir, Francesco Arena, Francis Alÿs, Lygia Clark, Mario Garcia Torres, Meriç Algün Ringborg, Multiplicity, Richard Long, Runo Lagomarsino and Stanley Brouwn.
Liberdade em Movimento
Curator: Jacopo Crivelli Visconti
May 30 – August 10, 2014
Fundaçao Iberê Camargo
Porto Alegre, Brazil
Adotado esporadicamente desde a década de 1920, o caminhar se consolida e difunde como prática artística a partir do final dos anos 60, mais ou menos no mesmo período em que a Internacional Situacionista e seu mâitre a penser Guy Debord, autor do clássico Teoria da deriva, abandonam a atividade artísticaem favor de um engajamento político explícito e militante, motivado pelos acontecimentos de 1968. Próximas das derivas situacionistas, as ações dos artistas que, ao redor do mundo, se lançam a andar sem muito mais do que “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” (como diria em âmbito brasileiro e de uma perspectiva distinta, mas de certa maneira complementar, Glauber Rocha) buscavam consolidar a ideia de uma arte não comercializável, que pudesse minar as bases da sociedade capitalista recusando a obrigação de produzir obras tangíveis e vendáveis. Em alguns casos, essas ações se opunham diretamente ao clima político em que foram concebidas, mas logo o “campo expandido do movimento” se firmou em contextos menos conflituosos, resistindo como técnica artística até os dias de hoje, apesar das mudanças do clima político.
O conflito entre a unicidade e a efemeridade da ação, e o registro que, apesar de incompleto, é o que sobra dela e passa a ser conhecido pelo público constitui, sem dúvida, uma das idiossincrasias mais fascinantes e inegáveis do âmbito do movimento. Qualquer relato ou registro de uma ação é, por sua própria natureza, parcial, já que condensa algo muito maior: uma ação com uma determinada duração no tempo e extensão no espaço, um desenvolvimento, um acúmulo de experiências. Ao trabalhar frequentemente com materiais frágeis e em constante transformação (gelo, neve, areia, terraetc.), os artistas evidenciam essa condição, ao passo que apontam para a possibilidade de se criar laços mais duradouros, e uma noção de comunidade real e profunda, exatamente através do momento, do ato, do movimento que precisam ser vivenciados e experimentados. A disposição para entregar o aspecto final da obra ao acaso, pelo viés da intervenção mais ou menos direta dos outros,confirma o desinteresse dos artistas aqui reunidos para um objeto artístico convencional, perfeitamente acabado. Mesmo quando acontece em completa solidão, mais do que produzir algo novo essas ações visamà fusão do artista com o espaço,à simbiose com a sociedade. As trilhas espontâneas que se formam, em Brasília, em aberta contraposição e contravenção ao traço livre e poético, mas raramente prático, de quem desenhou a capital, sintetizam perfeitamente essas considerações: o movimento é o caminho para a liberdade.