Abstraction in Action Carmela Gross: Iberê Camargo: século XXI https://abstractioninaction.com/happenings/carmela-gross-ibere-camargo-seculo-xxi/

Fundação_Iberê_Camargo

Artist: Carmela Gross, Angelo Venosa, Carlos Fajardo, Edith Derdyk, Eduardo Haesbaert, and Regina Silveria.

Iberê Camargo: século XXI
November 18, 2014 – March 29, 2015
Curators: Agnaldo Farias, Icleia Cattani e Jacques Leenhardt
Fundação Iberê Camargo
Porto Alegre. Brazil

Diferenciando-se de um formato convencional de exposições comemorativas, em geral um conjunto representativo ordenado cronologicamente, a mostra destaca a potência da poética de Iberê Camargo em diálogo com trabalhos de dezenove artistas brasileiros de gerações variadas.

O recorte valoriza as relações de vizinhança e tensões entre as pinturas, gravuras e desenhos de Iberê e uma grande variedade de linguagens, incluindo escultura, instalação, fotografia, literatura, dança e cinema. Com essa perspectiva, pretende-se salientar o diálogo consciente e inconsciente que os artistas travam entre si e, no caso particular deste projeto, evidenciar uma espécie de “efeito Iberê Camargo” na arte brasileira, ou seja, o modo como sua produção impôs-se ao nosso meio artístico, desvelando questões profundas da existência humana e do modo de representá-las. Um efeito que excedeu a própria duração da vida do artista, ultrapassando as linguagens por ele praticadas para ressoar em artistas de extração completamente distintas as suas, embora com sensibilidade e energia semelhantes.

Pela primeira vez, todos os espaços do edifício sede da Fundação Iberê Camargo são tomados como expositivos. A totalidade do prédio projetado por Álvaro Siza, desde o lado de fora ao interior tortuoso das rampas, passando pelo grande átrio, acolhe obras e conjuntos de obras com afinidades aos grandes eixos problemáticos tratados pelas várias séries de Iberê Camargo. Séries como “Carretéis”, “Núcleos”, “Fantasmagorias”, “Ciclistas” e “Idiotas” são apresentadas na companhia de trabalhos de artistas cuja proximidade, em alguns casos, pode trazer à mente a ideia de sombra, enquanto o caráter profundamente diverso da produção de outros, ao contrário, provoca fricções, ingrediente fundamental para o desdobramento de novos planos de leituras. O cinema, que Iberê tanto apreciava ocupa as rampas que levam de um andar ao outro, como também a literatura, que ele amava a ponto de praticá-la.

Alternando exemplares das principais séries de Iberê Camargo com trabalhos expressivos de artistas contemporâneos, a proposta de Iberê Camargo: século XXI é estabelecer um coro, colocar lado a lado um grupo consistente de vozes até então distantes umas das outras. A tensão e a surpresa provenientes dessas aproximações e cruzamentos interessam por si sós, dado que podem desencadear uma multiplicidade de sentidos.

Imagen: By Gustavo Kunst from Igrejinha, Porto Alegre, Brasil (Iberê) [CC-BY-SA-2.0 (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0)], via Wikimedia Commons
December 7, 2014 Clarissa Tossin: Liberdade em Movimento https://abstractioninaction.com/happenings/clarissa-tossin-liberdade-em-movimento/

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Artists: Allora and Calzadilla, Andrei Monastyrski, André Severo, Ariel Orozco, Arthur Barrio, Christian Marclay, Cildo Meireles, Clarissa Tossin, Dennis Oppenheim, Emily Jacir, Francesco Arena, Francis Alÿs, Lygia Clark, Mario Garcia Torres, Meriç Algün Ringborg, Multiplicity, Richard Long, Runo Lagomarsino and Stanley Brouwn.

Liberdade em Movimento
Curator: Jacopo Crivelli Visconti
May 30 – August 10, 2014
Fundaçao Iberê Camargo
Porto Alegre, Brazil

Adotado esporadicamente desde a década de 1920, o caminhar se consolida e difunde como prática artística a partir do final dos anos 60, mais ou menos no mesmo período em que a Internacional Situacionista e seu mâitre a penser Guy Debord, autor do clássico Teoria da deriva, abandonam a atividade artísticaem favor de um engajamento político explícito e militante, motivado pelos acontecimentos de 1968. Próximas das derivas situacionistas, as ações dos artistas que, ao redor do mundo, se lançam a andar sem muito mais do que “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” (como diria em âmbito brasileiro e de uma perspectiva distinta, mas de certa maneira complementar, Glauber Rocha) buscavam consolidar a ideia de uma arte não comercializável, que pudesse minar as bases da sociedade capitalista recusando a obrigação de produzir obras tangíveis e vendáveis. Em alguns casos, essas ações se opunham diretamente ao clima político em que foram concebidas, mas logo o “campo expandido do movimento” se firmou em contextos menos conflituosos, resistindo como técnica artística até os dias de hoje, apesar das mudanças do clima político.

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O conflito entre a unicidade e a efemeridade da ação, e o registro que, apesar de incompleto, é o que sobra dela e passa a ser conhecido pelo público constitui, sem dúvida, uma das idiossincrasias mais fascinantes e inegáveis do âmbito do movimento. Qualquer relato ou registro de uma ação é, por sua própria natureza, parcial, já que condensa algo muito maior: uma ação com uma determinada duração no tempo e extensão no espaço, um desenvolvimento, um acúmulo de experiências. Ao trabalhar frequentemente com materiais frágeis e em constante transformação (gelo, neve, areia, terraetc.), os artistas evidenciam essa condição, ao passo que apontam para a possibilidade de se criar laços mais duradouros, e uma noção de comunidade real e profunda, exatamente através do momento, do ato, do movimento que precisam ser vivenciados e experimentados. A disposição para entregar o aspecto final da obra ao acaso, pelo viés da intervenção mais ou menos direta dos outros,confirma o desinteresse dos artistas aqui reunidos para um objeto artístico convencional, perfeitamente acabado. Mesmo quando acontece em completa solidão, mais do que produzir algo novo essas ações visamà fusão do artista com o espaço,à simbiose com a sociedade. As trilhas espontâneas que se formam, em Brasília, em aberta contraposição e contravenção ao traço livre e poético, mas raramente prático, de quem desenhou a capital, sintetizam perfeitamente essas considerações: o movimento é o caminho para a liberdade.

June 13, 2014 Nuno Ramos: Ensaio sobre a Dádiva https://abstractioninaction.com/happenings/nuno-ramos-ensaio-sobre-dadiva/

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Artist: Nuno Ramos

Ensaio sobre a Dádiva
May 29 – August 10, 2014
Fundação Iberê Camargo
Brazil

De 29 de maio a 10 de agosto de 2014, a Fundação Iberê Camargo apresenta a mostra Nuno Ramos – Ensaio sobre a dádiva. Pensando o conceito antropológico de dádiva – troca entre dois objetos distintos com base em valores simbólicos, e não econômicos – o artista desenvolveu o trabalho especialmente para o espaço do 4º andar da Fundação, em diálogo com a arquitetura do edifício. Na exposição, que tem curadoria do crítico de arte e filósofo Alberto Tassinari, objetos se lançam no vão do espaço expositivo e ocupam o interior das salas, acompanhados por doiscurtas-metragens intitulados Dádiva 1 – copod’águaporvioloncelo e Dádiva 2 – cavaloporPierrô, desenvolvidos pelo artista e produzidos em Porto Alegre pela Tokyo Filmes.

Toda a instalação gira em torno dessas duas trocas, que se desdobram em três formas: escultura, vídeo e réplica da escultura. Na sala de Dádiva 1, um pedaço de barco – elemento recorrente na obra de Nuno – se projeta sobre o parapeito da sala, sustentando um violoncelo sobre o vão do átrio e fazendo a ligação entre ele e o copo d’água. Na parede oposta, é exibido o curta-metragem correspondente, que mostra uma mulher recolhendo o copo d’água na praia, trocando o objeto por um violoncelo em um bar e devolvendo o violoncelo para a água. No roteiro original de Nuno, um mar calmo remete à metáfora purificadora da água marinha, porém, durante a produção, o mar virou o Guaíba e a Lagoa dos Patos.

O espaço dedicado a Dádiva 2 recebe um trilho de montanha russa que lança um cavalo de carrossel no vazio e o liga a Pierrô, aqui representado por um aparelho de som que toca o samba Pierrô Apaixonado, de Noel Rosa e Heitor dos Prazeres. O curta apresenta a história de um Pierrô, interpretado pelo artista Eduardo Climachauska, que é sequestrado por motociclistas em Porto Alegre e preso em uma casa, sendo devolvido um cavalo em seu lugar. Segundo o curador, a personagem tradicional e carnavalesca da Commedia dell’Arte, que, pela mão de artistas do início do século XX,  vira Pierrô Lunar, encarnação do artista, repete sua transformação na mostra de Nuno.

Na sala central, são colocadas réplicas em tamanho real das duas esculturas das salas anteriores, uma em latão e outra em alumínio, interligadas por tubos de vidro em que circulam dois líquidos diferentes, representando o sono e a vigília. Além das esculturas, são expostas gravuras produzidas pelo artista no Ateliê de Gravura da Fundação, com auxílio técnico de Eduardo Haesbaert.

Nascido em 1960, Nuno Ramos tem formação em Filosofia pela USP e se debruça sobre diversas formas artísticas, como pintura, desenho, escultura, vídeo, instalação, poesia, prosa e ensaio.  Na juventude, participou do ateliê Casa 7, integrando a Geração 80, responsável pela volta à pintura e fortemente influenciada por Iberê Camargo.

Em Ensaio Sobre a Dádiva, o público porto-alegrense terá a oportunidade de conferir de perto o trabalho de Nuno Ramos. A mostra será aberta no dia 29 de maio de 2014, às 19h.

June 11, 2014